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A febre do Rivotril

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.Brell Stewart

O Rivotril é visto como o remédio do século. Tanto que essa geração é considerada como a geração Rivotril. Isso tudo porque o medicamento passou a ser enaltecido por toda uma geração de forma indiscriminada, utilizado como se fosse um remédio para dores de cabeça.

A utilização do medicamento passou a ser um instrumento de refúgio para aliviar o peso dos problemas da vida. O remédio é prescrito como “paz em drágeas”, e é exatamente dessa maneira que hoje às pessoas tem utilizado. Como um verdadeiro elixir contra as pressões e ansiedades do dia a dia.

O Brasil é o país campeão no consumo de Rivotril. Uma pesquisa auditada pela IMS Health revelou que o Rivotril (clonazepam), da fabricante Roche, é o segundo medicamento mais vendido no país.
Uma outra pesquisa da OMS (Organização Mundial da Saúde) revelou que 10% da população mundial utiliza os benzos, destes, um terço faz uso regular e o restante utilizam por mais de 180.

O medicamento Rivotril pertence à classe dos benzodiazepínicos, que são drogas psicotrópicas, ou seja, são medicamentos que afetam a mente e o humor. São também popularmente conhecidos como tranqüilizantes, calmantes, ansiolíticos, anti-ansiedade, sedativos, pílulas para dormir e hipnóticos.

Os chamados benzodiazepínicos surgiram na década de 1950 e logo viraram um substituto para os barbitúricos, como o Gardenal. Os barbitúricos têm indicação semelhante à dos benzo, entretanto, muito mais perigosos, isso porque há uma linha tênue entre a dosagem indicada para o tratamento e aquela considerada tóxica e fatal. A vitima mais famosa dos barbitúricos foi à atriz Marylin Monroe.

Assim, o surgimento dos benzodiazepínicos, trouxe para o mundo um combate mais seguro contra a ansiedade, estudos indicam que uma overdose de remédios como o Rivotril é praticamente impossível.

O Rivotril é um medicamento de tarja preta, ou seja, de venda controlada e que exige receita especial, mesmo assim, sua comercialização ficou a frente de medicamentos comuns, como o paracetamol.

Grande parte das vendas do Rivotril acontece com prescrição médica, mas não é incomum conseguir receitas em nome de outros pacientes ou até mesmo pela internet. Os medicamentos dessa categoria deveriam ser prescritos apenas por médicos especialistas em psiquiatria, porém, é muito comum médicos ginecologistas prescreverem o Rivotril para pacientes que sofrem crises de TPM.
Essa prescrição desenfreada por médicos não especialistas se dá inclusive pelo fato de que poucos brasileiros vão ao psiquiatra. De acordo com a Roche, grande parte da população tem dificuldade para conseguir uma consulta com um especialista.

A febre dos benzodiazepínicos

A venda indiscriminada destes medicamentos que prometem aliviar as tensões e a ansiedade virou uma onda em toda a sociedade, muito mais um modismo do que uma necessidade de fato. A grande questão esta no fato de que a sociedade entrou num turbilhão de estilo de vida que o nosso organismo não suporta e assim acabamos entrando em colapso e como não podemos parar, não mudamos nossos hábitos de vida, nos valemos deste paliativo farmacológico para tratar os sintomas e esquecemos de tratar as causas dessas doenças sociais modernas.

Os estudos e os efeitos dos benzodiazepínicos no organismo humano não são totalmente conclusivos. Os novos medicamentos, como o Rivotril, são fiscalizados por órgãos reguladores, como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a ANVISA, no Brasil e a Food And Drug Administration, a FDA, nos Estados Unidos, essa fiscalização e acompanhamento de seus efeitos é um processo demorado.

Quando um medicamento é lançado no mercado, estas entidades devem acompanhar sistematicamente os resultados de sua utilização. Isso significa que todos os efeitos colaterais e as reações devem ser constantemente monitoradas pelos médicos por meio de um programa de fármaco-vigilância. Esse tipo de acompanhamento é ainda muito precário em nosso país, principalmente no âmbito da saúde publica. Dessa forma, muitos dos efeitos colaterais não são oficialmente registrados e logo não podem ser veiculados.

Dependência Química e Psíquica

As inúmeras indicações do Rivotril e o forte apelo comercial, transformou o medicamento na “pílula da felicidade e do bem-estar”, porém, o risco de dependência é altíssimo. Podendo promover tanto dependência química como dependência física. Na química, o processo é parecido com o gerado por drogas como álcool e cocaína. O uso prolongado torna o cérebro dependente daquela substância para funcionar corretamente. Na dependência psicológica, a pessoa até pode parar de tomar o medicamento, mas carrega um caixa no bolso por precaução, com medo de que a qualquer momento poderão perder o equilíbrio emocional.

Cerca de 80% das pessoas que usam benzodiazepínicos ficam dependentes em 1 ou 2 meses de uso, e a maioria tem síndrome de abstinência se o medicamento for tirado de uma hora para outra.
O período de uso recomendado é de não mais do que duas ou três semanas. O uso crônico cria tolerância obrigando o paciente a aumentar a dose para obter os mesmo efeitos. A longo prazo, algumas pessoas poderão ter sua ansiedade aumentada e sua qualidade do sono prejudicada. Quadros depressivos tem grandes chances de se instalar nos dependentes a longo prazo.

Para vencer a dependência do Rivotril é preciso enfrentar todos os fantasmas que queria se livrar quando buscou o remédio. Afinal, ele só esconde os problemas. Eles continuarão lá, à espera de solução.

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