Um relatório divulgado pela Organização das Nações Unidas (ONU) mostra que o Brasil esta andando na contramão da queda dos números de infectados pelo HIV em todo o mundo. Somente nos últimos 8 anos o aumento no número de novos casos de infecção e as mortes associadas à doença foram significativas. Esse aumento representa um retrocesso naquilo que é uma tendência mundial. De acordo com o relatório a epidemia está em queda no mundo.
O mesmo relatório prevê que a doença possa ser controlada até 2030, o que representaria um controle da difusão e do impacto do vírus nas sociedades.
Porém, de acordo com outros dados publicados pela UNAIDS, o número de novos casos da doença cresceu 11% no Brasil entre 2005 e 2013, são 42 mil novos casos, as mortes chegam a 7% o que representa cerca de 15 mil óbitos em 2013.
Os dados mostram ainda que atualmente, 752 mil pessoas vivam com o vírus da AIDS no Brasil. Sozinho esse número representa quase a metade do total de casos na América Latina (1,6 milhão) e cerca de 2% do número de infectados no mundo (35 milhões).
O Brasil adotou uma política de tratamento da doença que privilegiou o acesso gratuito à medicação com antiviral. O acesso rápido e com mínimo possível de burocracia aos medicamentos demonstrou com o tempo o acerto da medida: o número de internações hospitalares diminuiu, a mortalidade despencou e, houve queda nos índices de transmissão da doença.
Hoje, é fato que a comunidade científica internacional e a OMS reconhecem o programa brasileiro de tratamento como o mais avançado do mundo, um modelo para os países em desenvolvimento.
Entretanto, o livre acesso à medicação fez desaparecer da imprensa e do convívio social a figura dos doentes com o rosto encovado e a pele coberta por manchas, essa era a imagem da Aids em sua fase avançada. O desaparecimento dessa imagem afrouxou as preocupações necessárias para impedir a disseminação do vírus. Passamos a agir como se a epidemia brasileira tivesse sido controlada e a doença tivesse desaparecido.
Grupo de risco/comportamento de risco
Durante muito tempo o HIV esteve associado à homossexualidade, aumentando ainda mais o preconceito e a discriminação contra essa população. Esse estigma ficou marcado pois os primeiros diagnósticos se deram em 5 homossexuais de classe média alta na Universidade da Califórnia.
O fato de a doença ter sido inicialmente diagnostica em homossexuais, esta muito mais relacionada ao comportamento do que ao fato de serem ou não homossexuais.
Entretanto, estudos indicam que o sexo anal leva a um risco maior de infecção do que o sexo vaginal. Isso foi inclusive comprovado por meio de experimentos realizados com cobaias. O sexo anal expõe uma região com grande presença de órgãos linfóides, onde concentram células mais sensíveis ao vírus. Portanto, esse fato associado à negligência e ao comportamento, justifica o aumento e a maior incidência entre homossexuais. Dessa maneira não se fala em grupo de risco, mas em comportamento de risco.
De acordo com o “Beletim Epidemiológico/2013”, publicado pelo Ministério da Saúde, entre 2002 e 2012 o total de homossexuais contaminados pela doença, com idade superior a 13 anos cresceu de 22% para 32%.
Fracasso nas terapias de cura
Dois casos de ‘cura’ tinham sido apresentados na Conferência Internacional de Aids, em julho deste ano, em Kuala Lumpur. Os pacientes também sofriam de linfoma, um tipo de câncer do sistema linfático, com grande risco de incidência entre pacientes com o HIV. O transplante foi indicado para o tratamento do câncer, mas, de acordo com os cientistas, poderia também ser uma arma contra a Aids.
Os cientistas anunciaram que o HIV voltou a se manifestar em um dos homens 12 semanas depois da interrupção do coquetel e o outro 32 semanas depois.
O reaparecimento da doença mesmo depois de serem diagnosticados como curados, demonstra que o vírus pode se esconder tão profundamente no corpo que ele não pode ser detectado pelo mais sofisticado trabalho de laboratório. Relatam ainda que algumas células antigas sobreviveram ou elas infectaram outras novas antes de morrer. O fracasso diz com certeza que não será fácil a luta contra a Aids.
O ressurgimento do vírus nos dois pacientes parece de fato muito decepcionante para o meio científico, entretanto, a situação demonstra que o HIV pode ser reduzido a níveis indetectáveis até por testes muito sensíveis.
Novas diretrizes de enfrentamento
O crescente número de casos no Brasil colocou o Ministério da Saúde em estado de alerta, isso pôde ser confirmado em um pronunciamento feito pelo diretor do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, Fábio Mesquita, que apresentou novas diretrizes para o enfrentamento da epidemia da Aids no Brasil.
O anúncio foi feito no dia 8 e 9 de março deste ano onde foi apresentado o novo Protocolo Clínico de Diretrizes Terapêuticas (PCDT) que coloca todo soropositivo em terapia antirretroviral, independentemente da carga viral.
As estimativas indicam que pelo menos 150 mil pessoas desconhecem a própria sorologia, essa condição somada a fragilidade nas campanhas de prevenção oferece um ambiente favorável ao aumento do vírus. Dessa forma o novo protocolo estabelece o aumento da testagem em cada região de atuação e o aumento nas campanhas de prevenção. O novo desafio para os próximos anos é colocar mais de cem mil pessoas em terapia antirretroviral.
Teste Rápido de HIV: onde e como fazê-lo
Os testes rápidos são simples e seguros, realizados a partir da coleta de uma gota de sangue da ponta do dedo. O sangue é colocado em dois dispositivos de testagem. O método permite que o resultado saia em apenas meia hora, conheça o resultado e receba o serviço de aconselhamento necessário. O resultado tem a mesma confiabilidade dos exames convencionais e não há necessidade de repetição em laboratório.
O teste é distribuído gratuitamente para serviços de saúde da rede pública de saúde, principalmente devido a sua agilidade e praticidade.
Os testes para detectar o vírus HIV são realizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) sigilosa e gratuitamente nos Centros de Testagem e Aconselhamento (CTA), que são unidades da rede pública. Laboratórios da rede particular também realizam estes testes.