Nunca se falou tanto em câncer de ovário como nesta última semana, tudo em razão de um artigo publicado no jornal “New York Times” onde a atriz norte-americana Angelina Jolie revelou em detalhes que se submeteu a uma cirurgia preventiva que consiste na retirada dos ovários e das trompas de Falópio.
A publicação feita pela atriz, acontece dois anos depois de ter realizado uma dupla mastectomia para retirada dos seios, na ocasião surgiram muitas discussões sobre esse
procedimento e qual as chances reais de se evitar o câncer.
A atriz revelou que por meio de um mapeamento genético foi possível identificar a existência de uma mutação no gene BRCA1, mutação essa que representa um risco de 87% para o desenvolvimento do câncer de mama e 50% de para o câncer de ovário.
A atriz perdeu a mãe Marcheline Bertrand, a avó e uma tia para os dois tipos de câncer, estas foram as razões pelas quais a atriz resolveu realizar um mapeamento de seus genes a fim de identificar possíveis marcadores inflamatórios e alterações genéticas que correspondessem ao surgimento do câncer.
A atriz revela que a cirurgia para a retirada dos ovários e das trompas é menos complexa do que a mastectomia, entretanto, seus efeitos são muito mais graves.
A retirada das trompas e dos ovários coloca a mulher numa espécie de menopausa forçada, pela interrupção na produção de hormônios sexuais responsáveis pela manutenção da saúde da mulher. A atriz terá que substituir essa deficiência por métodos alternativos como a reposição hormonal.
De acordo com informações publicadas pelo médico José Roberto Silassi, coordenador do serviço de mastologia do ICESP – Instituto do Câncer do Estado de São Paulo, a mutação no gene BRCA1 representa um aumento de 40% na probabilidade de desenvolver o câncer de ovário. Ainda de acordo com o médico, esse tipo de câncer é muito mais difícil de ser diagnosticado em estágio inicial, e tem uma mortalidade entre 60 e 70% dos casos, bem superior ao câncer de mama, que quando identificado logo no início seu índice de mortalidade é quase zero.
O médico revela ainda que o grande problema é que todos os cânceres associados a essas mutações são extremamente agressivos e costumam aparecer somente em exames de rotina. E no caso do câncer de ovário, os exames são bem menos efetivos para o diagnóstico na fase inicial. Dessa forma, a cirurgia preventiva pode ser sim uma alternativa quando comprovada as anomalias genéticas.
A atriz Angelina Jolie, está transformando sua experiência na luta contra o câncer, de forma preventiva, numa bandeira, inclusive sendo discutida mundialmente, mas a maior discussão é sobre o acesso às técnicas utilizadas pela atriz.
O exame de mapeamento genético é um procedimento ainda pouco utilizado no mundo, consiste numa tecnologia ainda muito cara e de pouco acesso da maioria das pessoas.
Primeiramente é preciso fazer uma extensa avaliação com um geneticista para decidir se é recomendável a realização do teste genético. O exame mais confiável para o rastreamento nas mutações dos genes BRCA1 e BRCA2 custam em média até R$ 9 mil reais.
O coordenador da área de Diagnósticos Mamários do Femme Laboratório da Mulher, Décio Roveda Jr., comenta que o teste genético não é oferecido pelo SUS (Sistema Único de Saúde), e não existe cobertura nos planos de saúde convencionais.